sábado, 5 de junho de 2010

04/06/2010-07h00

Projetos sobre Lygia Clark sofrem com custos impostos por sua família

artista.
Não é apenas da 29ª Bienal de São Paulo que Lygia Clark foi retirada por desacordo com a associação O Mundo de Lygia Clark, dirigida por Álvaro Clark, filho da artista.

Uma mostra no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza, com curadoria de Suely Rolnik, que apresentou, de 17/4 a 7/5 passado, 20 depoimentos sobre Clark, parte de sua antológica mostra na Pinacoteca, em 2006, não pôde exibir sequer o nome da artista.

Os depoimentos colhidos por Rolnik abordavam a obra de Clark por meio de pessoas que passaram por seu set terapêutico, entre eles Jards Macalé e Caetano Veloso.




Exposição sobre fase terapêutica de Clark, com curadoria de Suely Rolnik, na Pinacoteca do Estado, em 2006
Exposição sobre fase terapêutica de Clark, com curadoria de Suely
Rolnik, na Pinacoteca do Estado, em 2006

A mostra de 2006, "Lygia Clark: da Obra ao Acontecimento", foi considerada internacionalmente uma das melhores formas de exibir essas práticas experimentais.

Em Fortaleza, a exposição teria apenas os vídeos, mas, para que o nome da artista constasse dos folhetos, anúncios na internet e textos de parede, a associação cobrou cerca de R$ 40 mil.

"Esse valor é alto por incluir uma multa, já que nem fomos procurados sobre essa mostra", diz Álvaro Clark.

"Realmente, isso não pode continuar, várias famílias estão causando prejuízo para a obra dos artistas, como também ocorre com Volpi e Goeldi", diz Ricardo Resende, consultor do projeto Leonilson e diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte.

Reforma da lei

Segundo Resende, a Funarte irá criar um edital para ajudar famílias de artistas a cuidar do patrimônio herdado, mas com alguma forma de restrição ao poder excessivo dessas famílias.

"Na nova lei de direito autoral, há um grupo de trabalho que busca repensar essa questão", afirma o diretor.

"A lei brasileira é nosso maior problema, pois, da forma como as coisas estão ocorrendo, parece que não se quer que a cultura tenha um canal de fruição", diz Maria Alice Milliet, curadora da Fundação Nemirovsky.

Seu livro "Lygia Clark: Obra Trajeto", de 1992, está esgotado há mais de dez anos e não teve nova edição por conta dos custos que a associação impôs à Edusp.

"Essa foi minha dissertação de mestrado, primeiro livro sobre Clark, lançada por uma editora universitária, portanto, sem fins lucrativos", conta Milliet. "Mas os custos impostos pela família da artista inviabilizaram uma segunda edição."

Na 29ª Bienal, Clark participaria com "Caminhando", uma de suas obras mais importantes e, ao mesmo tempo, de execução mais simples: precisa de rolo de papel e tesoura para ser realizada.

"A ausência do trabalho só vai levantar mais curiosidade. Será a política do evento", disse a curadora convidada Yuko Hasegawa, num debate anteontem.

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